sexta-feira, 14 de outubro de 2011

As penas de um anjo
Parte 3

Estava caindo. Podia ouvir muito bem o som do vento passando pelas suas orelhas. Ao seu redor apenas nuvens, mas tão brancas, que pareciam ser trazidas de um sonho de tão bonitas. Olhou para cima e viu milhares de penas cintilantes, pincelando o céu por onde caiam.

- Que cheiro é esse ? – indagou-se. – É sangue ? Sim, meu sangue.

As penas rajavam-se ao toque do sangue pelo céu. Mesmo com todo aquele rastro rubro misturado a penas, era um quadro lindo.

- O que é isso em minhas costas ? Isso … é a dor ?

Nesse momento olhou para trás e viu ao longe a enorme planície verdejante se estendendo por quilômetros, e com certeza, seria esse seu destino.

- Será que se cair dessa altura …irei uma vez mais me levantar ? – perguntou a si mesmo com os lábios semiabertos, secos e rachado pelo forte vento.

Rafael conseguiu apenas abrir levemente os olhos vendo apenas o que tinha ao seu redor. Ainda estava deitado ao chão e sentia que a sua boca agora estava molhada, tocada suavemente pelo sangue que saíra de sua boca, resultante da queda direta ao chão. Natanael e Miguel correram para levantá-lo logo quando o ouviram os gritos e todo aquele barulho. As penas rajadas de sangue estavam agora espalhadas aos montes pelo quintal da casa. Sirenes tocavam e vinham junto do barulho e do cheiro de pneus de carros de polícia fritando ao asfalto. Rafael apenas sentiu seu corpo ser levantado do chão e com o apoio de seus amigos se encaminhando para uma ambulância que num piscar de olhos, estava na casa de Natanael. Rafael fechou os olhos.

-Vocês fiquem aqui, um oficial irá encaminhá-los para a delegacia. Até lá, entrem em casa e não contatem ninguém – disse um policial abrindo passagem para o s enfermeiros da ambulância.

Quando acordou, Rafael estava novamente na delegacia e rapidamente tirou sua cabeça que estava encostada nos ombros de Melissa, a pequena mulher que conversara mais cedo. Ela estava com um pijama lilas, com os olhos inchados como se tivesse acabado de acordar.

- Acho que você não está se sentindo muito bem, hein ? – disse Melissa.
- É, realmente essa não foi uma das minhas melhores noites – respondeu Rafael.
- Todos fomos trazidos novamente para a delegacia. Pelo que parece, no local onde todos estavam voltaram a aparecer as tais penas.
- É – respondeu Rafael deixando uma pausa grande na conversa enquanto tocava a pena em seu bolso.
- Bom , só falta saber porque fomos novamente os sorteados. – disse Melissa interrompendo a pausa de Rafael.

A sensação de tocar a pena era ótima como uma droga, extremamente viciante. Melissa percebia que ele não tirava a mão do bolso, mas preferia fingir que não reparava, talvez, melhor assim, aquele havia sido um dia incrivelmente estressante e todos estavam novamente naquele maldito cubículo para responder perguntas sem sentido, como se soubessem o que estava acontecendo. Nesse momento Natanael e Miguel saíram do interrogatório junto com o investigador, que olhou com certo ar de desprezo para Rafael chamando para novas perguntas. Entrou silenciosamente na sala com a ajuda de um guarda que o colocou sentado na mesma cadeira que estivera naquela tarde.

- Bom , acho que tivemos uma noite um tanto quanto perturbadora não é, Rafael ? – começou o Investigador.
- É , acho que o corte na minha boca diz o quanto foi bom. – respondeu Rafael.
- Realmente Rafael, realmente. Sei o quanto é impertinente, mas precisamos de respostas para ajudar a saber o que está acontecendo. O que aconteceu na casa de seu amigo para que você caísse ?
- Não sei, acho que devo estar ficando louco, parecia mais um sonho. - disse Rafael cabisbaixo.
- Bom , só conseguiremos responder se você nos contar o que aconteceu. – prosseguiu o investigador.
- Então, aquele mesmo homem que colocou as penas no meu carro, apareceu na casa de Natanael. Disse algumas besteiras sobre o meu nome e o que ele queria com toda essa história de penas. – continuou Rafael.
- Como era esse homem ?
- Ele era loiro. Não consegui ver direito seu rosto pois estava muito escuro. Apenas sei que era loiro.
- Ele te falou algo sobre as penas. Citou algum ritual ou o motivo de espalhar elas ?
- Não , apenas me mostrou a poça de sangue com as penas. – nesse momento Rafael apertou com toda a força a que estava em seu bolso.
- Você não se importa se eu acender um cigarro não é Rafael ? Toda esta merda está mexendo com a minha cabeça.
- Não , se possível quero acender um também.
- Claro, Claro, fique à vontade. Bom, sobre as penas não podemos contar muita coisa. Tem muita gente envolvida e os grandões pediram para não compartilhar informações alheias, mas eu acho que isso é uma putaria.
- Como assim, eles acham informações e não querem divulgar para quem está passando por isso tudo ? Estou sem casa, sem carro e essas merdas de penas não param de aparecer. Pareço até uma galinha porra!

O investigador olhou-o nos olhos profundamente seguido de uma longa tragada no cigarro em que fumava. Fechou os olhos e abriu a boca.

- Qualquer coisa que te dizer aqui, não poderá ser divulgada nem com sua mãe. Você entende isso ? E só irei te contar, para poder abrir um pouco mais a minha mente e também o fardo.
- Entendo. – disse Rafael trêmulo.
- Bom , o sangue que encontraram … não está classificado como o de nenhum animal. O mesmo acontece com as penas.
- Como assim ? – disse Rafael deixando o cigarro queimar seu dedo, entendendo a resposta que estava por vir.

Rafael saiu da sala depois de ouvir a resposta do Investigador, sentou no banco ao lado de Melissa. Acendeu outro cigarro com as mãos já trêmulas. Ele olhou para o rosto da mulher com um sorriso amarelo e disse:

- Você realmente acredita em anjos ? – falou Rafael, seguindo com uma tragada forte em seu cigarro.

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