terça-feira, 25 de outubro de 2011


Esse post é especial para ti Ѽєℓℓєηzιηнα Cυllєи ƒ. вιттєη¢συят Ѽ
 
E não importa o quanto você chorou, ou quanto seu dia foi ruim. O quanto você se decepcionou e quantas pessoas te deixaram pra trás. Não importa se você errou, o que importa é que você aprendeu. E o que importa é que o sol sempre nasce no dia seguinte, te dando a oportunidade de ser feliz e deixar todas as tristezas pra trás.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Você ainda consegue sorrir?
Não? Bem, deveria. Vou te contar um segredo. As pessoas não podem ter o poder de tirar a melhor coisa em você. Seu sorriso. Mesmo que alguma coisa esteja doendo aí dentro, procure por algo que te faça bem, que faça você se sentir feliz. Nem que seja por um segundo, vai te fazer muito bem.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Meninos carinhosos. Desses que abraçam, andam de mãos dadas, dão beijinho de esquimó, são calmos, ficam sem graça ao serem elogiados, tem sempre aquele cabelinho bagunçado e um cheirinho bom, são gentis, educados e que tratam as meninas como princesas. Estão cada vez mais raros.
As vezes tudo que precisamos é que alguem nos abrace, sem perguntas, sem julgamentos, sem pressão. E que nos diga ‘Eu to aqui, e é aqui que vou ficar’.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Você nunca saberá o que é dor, até que você olhe nos olhos de alguém que você ama, e esse alguém desvie o olhar.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Quando você realmente gosta de alguém, idade, distância, altura, peso .. é apenas um número maldito.
 Você ja parou para pensar que talvez você ja não ame mais aquela pessoa? Que talvez você só ame as memorias que viveu com ela? Aquela pessoa que você amava mudou, ela nao existe mais.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dê valor as pessoas enquanto elas estão por perto, pois saudade não será motivo suficiente para que elas voltem.

sábado, 15 de outubro de 2011

Você lê e sofre. Você lê e ri. Você lê e engasga. Você lê e tem arrepíos. Você lê, e sua vida vai se misturando no que está sendo lido.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

As penas de um anjo
FINAL!
Alguns dias se passaram desde a sua queda naquele campo gramado. O cheiro da grama e da vegetação em sua volta era intensa e bem revigorante de certa forma, mesmo ignorando o cheiro fétido do sangue que saia do seu corpo.

Suas feridas ainda que um pouco abertas, fechavam-se rapidamente com o passar do tempo, a dor era intensa e demasiadamente insuportável, provada a cada minuto desde que Lecabel retirou ele mesmo as suas maravilhosas asas de anjo. Com uma espada que em seu cabo havia um simbolo na esquecida língua dos anjos, onde estas demonstravam a sua reverência, sua missão e todo o amor ao seu criador, Deus. De tão afiada que era a espada, precisou somente de dois golpes para arrancá-las de uma vez por todas.

Quando caiu na terra estava totalmente nu, e mesmo se perturbando com o peso de seus atos, roubara algumas roupas no varal de um sítio que passou pelo seu caminho para que pudesse aquecê-lo em sua jornada. Caminho, ele já não sabia qual o rumo certo a tomar. Sabia apenas qual era a sua missão e devia ter exito na mesma. Afinal, tudo dependia de sua missão. Uma camiseta branca com um furo debaixo do braço, uma calça jeans surrada pelo tempo e pelo uso excessivo e um sobretudo verde escuro que pelo seu estado, havia sido pouco usado pelo seu dono original por ser de grande valor ou porque considerava-o ilustre demais para ser usado em meio ao estrume e os animais da fazenda.Era inverno. Como um pagamento para as roupas surrupiadas, deixou uma pena retirada de suas antigas asas. Seria um belo pagamento ao dono da roupa se aquele humano soubesse o poder dela.

Depois de ter andado dias vagando pelos bairros rurais da cidade de Atibaia, onde não haviam muitas casas e ainda menos rostos de amizades, Lecabel finalmente encontrou uma casa abandonada ao final de uma fazenda. A casa fedia a mofo e as teias de aranhas cintilavam como uma linda decoração extravagante no meio daquela imundice. Quando entrou na casa empurrando a porta da frente, ela fazia um som de ranger estridente pelo interior da casa, aumentado inúmeras vezes pelo vácuo que havia no local. O tempo arruinara a casa por completo. Havia apenas um sofá, onde antes poderia ter sido uma sala aconchegante e quente pela lareira localizada no meio da parede que por sinal, fazia um painel naquela sala que jazia cinzas em seu interior. Retirou o pó que criava uma leve camada pelo contorno do sofá, para que já não sujasse mais ainda as suas roupas surradas e não piorar a situação de suas feridas sangrentas nas costas que podiam infeccionar com toda aquela imundice. Era humano agora, e as condições que impostas aos outros agora era atribuídas a ele também. As aranhas faziam companhia para Lecabel. Faziam-no se sentir um amigo para que não se sentisse só naquela noite fria. A noite se tornava ainda mais escura naquele momento e os pensamentos enegrecidos pelo fardo de sua missão presenteavam-no com uma enlouquecida dor de cabeça, fazendo cada centímetro de seu crânio doer com seu peso.

- Amanhã devo começar a jornada. Achar o arcanjo em sua forma humilde. – Disse Lecabel vencido pelo cansaço aliado da dor. suas pálpebras fecharam-se levando-o ao um sono tranquilo.

Rafael e Melissa saíram da sorveteria da praça da Matriz, era quase noite. A igreja da Matriz estava lindamente iluminada, mostrando todos os seus adornos e belezas na noite de Atibaia. Toda aquela história de anjos e arcanjos deixaram Rafael eufórico, não se continha com a esperança de saber mais sobre eles e um pouco mais sobre o real significado de seu nome.

Nunca havia se dedicado pelo menos um minuto se quer para que buscasse sobre o seu próprio nome e, um Arcanjo, significava alguma coisa afinal. Até esse momento, Rafael não conseguia mais retirar a mão da pena em seu bolso. Era viciante seu toque e a leveza com a qual sentia-se a cada milímetro era absurdamente inexplicável, quase como se ele mesmo tivesse suas asas. Rafael não conseguia saber o porque, mas a igreja havia mudado algo na sua cabeça, e também dentro de seu coração. A ideia de aceitação de cristo parecia um pouco mais convincente nesse momento.

- Nós poderíamos jantar daqui a pouco, não ? – disse Melissa – O sorvete me deu um pouco de fome.
- Como assim ? Você acabou de comer a sua sobremesa.
- Eu sei, mas sempre que como sorvete me da mais fome. E sempre que como algo salgado, me da vontade de comer sobremesa.
- É admirável como você ainda é magra.
- Até a minha mãe diz isso. – Terminou a fala Melissa com um sorriso.

Caminharam mais alguns minutos pela praça da Matriz para que pudessem reparar um pouco mais em sua beleza despojada até que juntos, decidiram finalmente jantar numa lanchonete ali perto, no centro de Atibaia.

A lanchonete chamava-se Papa Joe’s e a decoração do lugar era extremamente alternativa, deixando cada detalhe, cada quadro, cada retrato, um sinal convidativo para que os fizessem se sentir muito à vontade. No decorrer daqueles dias a situação das penas e sangue espalhado pelos cantos e a segunda aparição daquele homem tornaram o peso de ficar sem casa e lugares confortáveis para dormir um tanto quanto pior. Ainda não haviam decidido onde ficariam aquela noite, pois estavam sem casa para se aconchegar naquele tempo frio que andava fazendo em Atibaia.

Um dos garçons do local preparou uma mesa para o casal, deixando sorrisos em seus rostos com piadas inteligentes e trazendo dois cardápios com quase um metro de altura deixando mais uma vez a boa impressão e respeitabilidade da lanchonete. Atibaia era assim, com dezenas de lugares onde se comer e cada um com sua individualidade para atrair mais turistas. Mas pelo visto, as últimas visitas deixaram um presente inusitado na cidade: penas e sangue.

- Vou experimentar o lanche vegetariano. Nunca comi, deve ser interessante. – disse Melissa.
- Eu vou pedir uma caipirinha para começar – disse Rafael rindo, mostrando a vontade de querer aproveitar o momento.

Os dois conversavam simpaticamente por alguns minutos até que Rafael colocou a mão que não segurava a pena sobre a mão de Melissa. O rosto da mulher agora ficara rubro. Estava envergonhada, mas mesmo assim, não retirou a mão. Rafael finalmente percebeu o que deveria fazer.

O garço finalmente trouxe as bebidas na mesa com o mesmo carisma que demonstrou na apresentação do local. A noite estava perfeita até aquele momento, mesmo sem saber o seu rumo . Quando o garçom terminou de servi-los saindo para atender outra mesa, Rafael sentou ao lado de Melissa.

Os dois se entreolharam por um momento e como se os dois já esperassem por demais aquele momento, até que Rafael tocou levemente a sua orelha esquerda e com um leve puxão, beijou-a. O beijo durou por alguns minutos. A pena intensificou aquele momento, ele realmente estava nas nuvens. Como se pudesse abrir as suas asas, como se fosse um anjo. Quando se afastaram-se para tomar um pouco de fôlego, nada falaram, apenas se olharam.

Com um certo ar de inocência Rafael virou seu rosto para os lados para ver se as pessoas no recinto repararam no ato, mas por um único segundo, quando olhou pela janela, lá estava ele, o homem da noite anterior. O homem ria quando percebeu que foi avistado por Rafael e com um sinal da cabeça, disse para Rafael ir para seu encontro.

Rafael em um ímpeto furioso, levantou-se esbravejando e expondo agressividade em seus gestos. Sua cadeira e seu drink caíram, estatelando-se no chão causando uma pausa para que todos o olhassem. Melissa achou um tanto quanto incomum, ficou imóvel com aquele gesto até também avistar o homem na parte de fora da lanchonete e Rafael correndo ao seu encontro.

- Finalmente nos encontramos de novo, ó Grandessíssimo Rafael – disse o homem fazendo uma mesura para Rafael.

Rafael respondera à aquela gentileza com seus punhos. Arrematou um soco em direção ao rosto do homem, fazendo um som abafado com o choque de seu punho quando encontrou o queixo do homem. Ele apenas riu enquanto cuspia sangue de sua ardilosa boca.

- Um superior sabe educar o seu bom subordinado como ninguém – disse o homem ainda rindo.
- Seu merda! Agora você não me escapa! Vai responder a todas as minhas perguntas – disse Rafael com uma forte voz gutural, afinal, uma voz gultural resolve problemas com extrema facilidade.

Quando alguns garçons vieram ajudar a apaziguar a confusão, o homem apenas levantou uma mão e como se fosse mágica, eles pararam e deixaram a conversa rolar, esquentando a cada palavra que os dois soltavam de suas bocas. O poder de persuasão que exalava daquele simples gesto, era extremamente enigmático.

Cada frase ardia como brasa quando cuspidas da boca de Rafael e aquele homem parecia pouco se importar estando no meio daquela fogueira em que Rafael criava ao redor.

- A pena. Você ainda a detêm em seu poder, meu Rafael ?
- Sim. De onde vieram as penas ? E porque você me deu uma delas ?
- Horas, de um anjo , claro. – disse o homem sorrindo com sangue escorrendo pelos lábios. – E eu sou o tal.
- Não faça piadas ou sua próxima risada terá que ser feita com alguns dentes a menos.
- Acalme-se. Se me deixar explicar ficarei muito grato Ó Grande.
- E é bom que comece o mais rápido possível. Minha paciência não está lá essas coisas nesse momento.
- Vamos a um lugar mais reservado para que eu possa falar o que é realmente preciso.



Rafael não soube o porque, mas motivado pela dúvida não pode deixar de acatar o pedido daquela pessoa. Juntos, os três, voltaram para a praça da igreja da Matriz. Pelo caminho todo, não era muito longo mas naquele momento a caminhada se parecia mais e mais com uma verdadeira odisseia.

A pena agora ardia em sua mão, retirando todo o frio que sentia junto com a adrenalina resultante de sua raiva pelo homem em sua frente. Juntos, Melissa e Rafael estavam de mãos dadas, acariciando-as como se aquele momento pudesse ser único e se soltassem, ele poderia acabar.

O homem parou, sibilando de uma maneira como se estivesse incomodado com o que ia falar, mas assim que parou e virou o rosto para que pudessem vê-lo as palavras saíram sem nenhuma outra complicação maior.

- Bom, senhor. Você pode não se lembrar de mim como eu esperava e como grandioso eu e você éramos. Talvez sinta a falta de um par de asas para que sua mente se lembrasse com maior presteza.
- Como assim, asas ? Mas que filha da putisse você deseja que eu acredite ?
- Ainda não percebeu quem você é ?
- Não … como , como assim quem eu sou ? – gritou Rafael – EU SOU O MESMO RAFAEL COMO SEMPRE FUI !
- Você é o grandessíssimo Rafael, O Primeiro.- disse o homem como se fosse uma súplica para que Rafael se lembrasse.
- Se eu fosse um arcanjo, acho que saberia bem disso. Como é o seu nome? – disse Rafael quando tirou a mão da pena de seu bolso e cerrou os dois punhos fortemente.
- Meu nome? A minha graça é Lecabel. Um dos anjos da guarda celestial. A milhares de anos, lutei ao seu lado bravamente Rafael. Muito do que consegui ser como anjo, deve-se a você, meu mestre, minha fonte de inspiração.
- Você realmente é louco. – disse Rafael enquanto tirava a mão em que apoiava Melissa para agredir Lecabel, mas antes de concretizá-lo, Lecabel segurou seus punhos cerrados. – Você vai parar de espalhar essas merdas pela cidade e vai ser AGORA!
- A pena que você guarda em seu bolso. Feche os olhos e tente lembrar! EU LHE SUPLICO! VOCÊ É A ÚLTIMA ESPERANÇA, MEU SENHOR!



Rafael não soube se a curiosidade moveu seus olhos para que estes se fechassem, ou se foi um simples reflexo pela fala de Lecabel mas assim que os fechou, colocou uma das mãos sobre a pena, que ardendo ao toque, desapareceu. Um grupo de jovens no lado que antes, nada pareciam importar, agora escutavam notícias de desastres que estavam ocorrendo no mundo afora. Rafael tentou concentrar-se no que queria pensar, mas as novidades de tsunamis, terremotos, vulcões ativos e assassinatos em massa o prendiam intensamente na transe.

Asas, penas e o cheiro metálico. As imagens em sua mente agora atribulavam-se rapidamente mostrando o seu rosto com os cabelos alongados e seu corpo saudável dentro de um peitoral adornado, feito inteiramente de ouro.

A sua mão, agora ao invés da pena que segurava no bolso, foi trocada por uma longa espada que reluzia uma luz cegante como se olhasse diretamente ao sol. Na espada, havia uma escrita que antes não poderia descrever o seu significado, mas, claramente lia a inscrição que traduzida significava, “Deus”. Todos os seus feitos, toda a sua verdadeira história de uma outra época, uma época que não poderia ter existido, veio em sua mente com um piscar de olhos. A sensação de leveza em suspensão no ar lhe trazia invejas daqueles que ainda tinham asas.

Batalhas contra demônios, anjos que antigamente foram seus irmãos e agora soldados de Lúcifer. O sangue deles escorriam em abundância pelo fio da espada, e pelo céu, os membros de seus inimigos caíam. Ensinamentos que trazia a alguns humanos como presente e deveras outras coisas em um passado remoto. Lembrou perfeitamente o que era, era O Arcanjo Rafael. Sabia o porque se aprisionara na forma humana e porque suas lembranças celestes foram esquecidas. Um presente de Deus, que lhe foi dado de bom grado pensava. Na verdade o presente era um presente aos planos do seu ser superior, para que não o interrompesse e não deixar que ajudasse a salvar os humanos da dor e de seu inevitável fim.

- Você … veio me ajudar, Lecabel ? – disse Rafael.
- Sim … e paguei o mesmo preço que você e muitos outros fizeram o mesmo, por isso as penas e o sangue pelo mundo, senhor. O senhor foi o primeiro de todos, e muito foram movidos pelo seu ato de amor.

Melissa não conseguiu compreender a conversa em que os entravam agora, até que Rafael explicou-lhe o que vira antes de abrir os olhos. Ele sabia o que devia fazer e o porque. A humanidade estava perdida. Corrompida até os ossos que sustentavam o seu corpo. Devassidade, egoísmo, assassinatos, putrefação em vida.

Deus não suportava mais a insanidade do homem e assim, decidiu, não aliviadamente, que a vida que se empenhou tanto para criar e dar de presente já não era mais merecida. Assim ele anunciou aos seus servos celestiais a sua decisão. Assim como à ser criado, Rafael também foi o primeiro a se rebelar diante o seu objetivo.

- Não farei parte disso, Pai. Não sou merecedor dessa honra em que quer me conceder. Não vou ser o arquiteto do fim da vida do homem, assim como não gostaria de vê-lo ensandecido meu grande, Criador. – disse Rafael com as lágrimas que podiam curar qualquer doença, escorriam pelos seus olhos perante a presença de seu senhor e a decisão. O peso do anúncio do apocalipse era demasiadamente forte, mesmo dentro de toda aquela armadura completa de ouro.



Rafael aprendera a amar os humanos e se agendar para o fim do mundo. Mas agora, pouco antes do juízo final, tudo mudara drasticamente em sua mente. Não era a morte para elevação da alma , mas sim o extermínio dela. Extermínio … a palavra ecoou em alto e bom som dentro de seu crânio.

- Serei eu o filho que dá ao pai, aquilo o que ele quer? Ou serei o filho fiel que o da aquilo que realmente precisa? – e com o terminar dessas palavras voou até o mundo dos humanos, a Terra, para que finalmente arrancasse as suas asas com a espada dourada e assim dar lugar de suas lembranças para a amnésia e loucura.



Lecabel levou a mão de Rafael junto a dele, e apertando fortemente disse:

- Você lembra onde enterrou a sua espada, a grande arma concedida pelo Senhor ?
- Lembro perfeitamente de minha espada, a “Cura Divina”.
- Devemos então buscá-la, ela é a chave do Juízo Final, o Apolicapse!



Rafael, dominado pelas visões segurou fortemente a mão de Melissa e todos os três juntos de carro foram até um bairro localizado numa região de longinquidade grande, onde um tempo houvera enterrado a espada. Muitos carros passavam naquela hora, mas nenhum deles faziam menção aos ver os três elementos próximo ao lago cavando com as próprias mãos a terra dura.

A humanidade esquecera seus valores e seus deveres aos próximos e cada vez mais, ver um louco próximo a estrada e não pensar em ajudá-lo tornou-se banalidade. Cavaram fundo e logo quando as mãos de Rafael começou a exibir o sangue por entre os seus dedos viu um pano desgastado pelo tempo enterrado cheio de terra em seu topo, criando uma leve camada de sujeira sobre si.

Quando retirou a camada de tecido, nela pôde ver o cabo da espada com as inscrições na língua perdida. A insanidade tomou a cabeça de Rafael, mostrando que como quase um anjo caído nas mãos de seu grande irmão Lúcifer, se fez esquecer de sua grandiosidade para que pudesse viver o amor na terra. Ao levantar a espada ainda embrulhada, via que nunca perdera a sua luz, mesmo a muitos anos esquecidas e mesmo pela escuridão da noite, brilhava como o sol.

Era isso, iria fazer o sol brilhar para os humanos mais uma uma vez ! Estava decidido.

Naquele momento, milhares de portas diretas do inferno foram abertas, era o que Lúcifer precisava. Era o que ele queria e com a ajuda de Rafael o seu mando sobre a terra iria iniciar. Os generais do inferno se juntavam com suas tropas para marchar para a glória do submundo.

Terremotos aconteciam, pessoas simples, crianças e velhas desapareciam ao redor do mundo, fazendo o choro e a tristeza pesarem mais e mais sobre aqueles que viviam, criando assim um laço para fortalecer os portais entre o inferno e a criação divina. O arrebatamento estava começando finalmente.

- Devemos ir agora de volta a igreja. Lá iremos conseguir parar essa loucura de nosso Senhor. – Disse Lecabel com seriedade .



Os demônios eram invisíveis aos humanos, Melissa se assustava quando olhava as pessoas na rua desfalecerem com o sangue em suas roupas e nada ali para causar aquele rasgos na carne humana. No carro todos ficaram quietos até chegarem a igreja. A igreja e as pessoas que permaneciam nela assustadas estavam protegidas, mas por pouco tempo. Nem Deus poderiam ajudá-las naquele momento … Ele era a causa de tudo.

As pessoas gritaram ao ver o sangue jorrado de um corpo na porta da igreja onde pensavam estar na mãos de Deus. A cabeça do padre que havia conversado com Rafael e com Melissa rolara até tocar o pé de Lecabel, que este no mesmo momento trocou a face de excentricidade e paciência por uma carranca horrorosa, expressando toda a raiva e a angústia que sentia naquele momento. Era ele, Azazyel, o maldito anjo caído que havia dado de presente aos humanos o ensinamento da criação de facas, espadas e armaduras para que pudessem criar a guerra e a morte de milhões.

Ele vinha em busca de vingança … seu sorriso coberto de sangue demonstrava isso ao olhar atentamente a forma simplória de Rafael sem suas asas, aquele que foi o seu carrasco no passado. Estava em um banquete … e ninguém poderia dizer quando e quanto poderia comer.

- Aaaah Rafael … – disse Azazyel, o anjo caído – Esperei muitos anos por esse momento.
- Você devia se por no seu lugar e se desculpar por todos os seus erros, Anjo caído – gritou Lecabel.
- Deixe Lecabel, este filho da puta quer a mim. – colocou a mão sobre o ombro de Lacabel e sussurou – Leve Melissa para um lugar seguro.

Lecabel como um bom subalterno, puxou com rispidez a mão de Melissa para levá-la longe do sangue que seria derramado,e provavelmente ver a cabeça de Rafael no chão. Ele não seria capaz de subjugar novamente Azazyel em sua forma humana, sem as suas asas. Juntos, Lecabel e Melissa correram com a maior força possível pelos dois, e em suas costas só conseguiam ver a uma luz cegante iluminando um pouco as trevas do local. O ar estava pesado.

Lecabel apenas acenou a cabeça em modo de repreensão para Melissa quando ela fez menção em olhar para trás e ajudar o Arcanjo.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA – O som estridente de uma voz ao fundo.

Quando Melissa parou viu ao seu lado e ao lado do anjo o inimigo de Rafael .. Azazyel estava ainda mais cheio de sangue em sua armadura negra e as suas asas mostravam-se abertas. Será , que ? Será que ele realmente havia assassinado Rafael? As asas que antes residia penas límpidas, davam lugar agora ao formato das asas de um morcego, cobertas de escamas rubras e rasgadas em seu interior pelas guerras vividas no passado.

- Você é quem ele protege, certo ? – Disse enquanto tocava o queixo de Melissa.
- Tire suas mãos delas, seu imundo ! – gritou Lecabel quando levantou os punhos e em uma das mãos estava uma pequena faca, que parecia a muito antiga.

O anjo caído segurou velozmente as mãos de Lecabel. Tudo aconteceu muito rápido. Um Cleck e logo depois no chão estava Lecabel segurando o seu braço esquerdo. Estava quebrado. Calmamente Azazyel foi ao encontro do anjo que no momento estava em sua lamúria pela dor causada pelo osso estilhaçado de seu braço.

- Você é, e sempre será fraco Lecabel – Disse o demônio, fazendo com que suas feições transformassem-se, apresentando os seus chifres e as maçãs enegrecidas.
- Você é que é o fraco aqui demônio. Rafael irá exterminá-lo como já fez em seus tempos de arcanjo.

- Estou farto das estupidezas desse Deus e de seus passarinhos. Lúcifer não deixará tudo acabar assim, ele precisa dos humanos. Mas de um jeito mais, como posso dizer … mais humano. E um tolo que apenas protege os humanos não sabe do que são capazes alguns dos piores tipos.

- Eu conheço bilhões, mas nenhum merece a aniquilação dessa maneira. Um renegado não pode saber o que é o amor se este nunca se permitiu vivenciá-lo.



O rosto de Azazyel enegreceu mais ainda.

- Pronto. Minha paciência acabou. – após fechar seus lábios, o anjo fez materializar uma enorme lança, de mais ou menos dois metros e meio e com apenas uma estocada, assassinou Lecabel. A ponta da lança era vista do outro lado do corpo do anjo, atravessando o estômago … seu sangue agora era apenas uma poça. Azazyel agarrou Melissa e com poucas batidas em suas asas, voou de volta para a Igreja. Por onde suas asas tocavam, o céu ficava mais escuro e o cheiro de ferro fazia-se presente.

- Solte ela seu FILHO DA PUTA ! – Rafael não morrera. A ira no seu rosto tornava-se incomensurável. Estava de joelhos de frente a igreja com uma lança negra em cada uma das coxas, precedidas por um ferimento horrendo que escorria sangue em abundância. Com certeza, nunca mais andaria. Pouco provável seria se saísse vivo com aqueles ferimentos e caso eles não fossem o bastante, Azazel daria cabo de concretizar a vingança.

- Vejo que aprendeu bem o modo humano meu amigo. – Disse Azazyel com zombar em sua fala enquanto materializava uma espada negra e pousava a ponta da mesma na garganta de Melissa. – Algumas últimas palavras para o seu amor ? Devo matá-la rápido ou você quer ver ela morrer lentamente enquanto o sangue sai das feridas?

- Se você movimentar mais um centímetro demônio, eu me preocuparia com as feridas que eu irei causar em sua carranca !

- Bom, farei do meu jeito já que você não se decide. A minha vingança está apenas começando ó Grande, você irá perder tudo o que ama, assim como me fez perder tudo o que eu realizava.

- Você realizava a morte maldito! – Rafael gritava enquanto as lagrimas se esvaiam pelos cantos de seus olhos. As feridas estavam curando-se sozinhas com o cair das lagrimas.

- Dê adeus, humana – Azazyel beijou a orelha de Melissa.

- Rafael, não importa o que acontecer ou se foi muito rápido, eu te amo. Mate esse filho da puta e não deixe tudo acabar, eu estarei te esperando onde for, no inferno ou no céu! – Rafael sabia que não existiria mais céu ou inferno depois desse dia.

Rafael olhou em volta da praça, os corpos sem cabeças enfiadas em lanças negras agora eram vários. As crianças, os adolescentes e os velhos tiveram suas cabeças arrancadas uma a uma, e Rafael teve que olhar cada um destes assassinatos.

A força veio de outra fonte, mas foi o bastante para que com uma só das mãos arrancasse as lanças de suas coxas … e com mais um impulso , levantou-se. Azazyel largou Melissa no chão , não antes de quebrar os seus dois braços na altura dos punhos. Andou com o ar sorridente e irritado para a frente de Rafael. A mão que tirara as lanças, segurava uma delas nas mãos para a tentativa de um bote no demônio, mas antes que pudesse fazer o ato, o anjo caído decepara o braço esquerdo de Rafael.

-Bom , agora acho que não terei nenhum imprevisto com você, arcanjo nojento. – Disse Azazyel.

O sorriso voltou em seu rosto, temperado com a loucura. A espada foi levantada mais uma vez e abaixada uma última vez. O barulho da carne sendo facilmente fatiada fez a dor de Rafael pela perda de sua mão parecer singela.

Quando conseguiu levantar seu rosto aos trancos e barrancos, viu a espada atravessada em um corpo.Aninhada pelo peito de Melissa, estava ali a espada. Azazyel gargalhava ensandecidamente enquanto via o rosto da mulher desfalecer em sua frente. As asas de Rafael não estavam mais presas aos seu corpo, mas naquele momento, foi como se estivessem. A luz que emanava da espada, estava apenas alguns metros de distância. Ali estava Cura Divina pedindo para ser usada uma última vez. O último suspiro de Melissa foi ouvido por Rafael, mas com um piscar de olhos a única coisa que conseguiu enxergar quando seus olhos abriram, foi seu braço segurando fortemente Cura Divinaenfiada diretmente no coração de Azazyel.

- Mas da onde ? Como ? – chorou o demônio.

- Isso já não importa. Nada mais importa. – Disse Rafael enquanto retirava a espada do corpo e com um único golpe, arrancava a cabeça de Azazyel. Finalmente, punido como merecia.



Rafael, embrulhado em sangue chegou perto do corpo de Melissa. Chorou. Ela estava morta, não havia mais o que fazer. Não havia mais propósito. O humano que realmente lutaria pela vida de todos jazia diante de seu nariz.

- Por que Deus ? – lamentou Rafael. – Eu o servi, e fui a sua mão e sua boca diversas outras vezes, por que deseja agora o fim de tudo pelo que lutei!

O investigador Gabriel, horrorizado pela cena de carnificina que encontrará em plena igreja caminhou lentamente até o lado de Rafael.

- Rafael, a culpa não é sua meu irmão.

- Irmão ? – Rafael levantou seus olhos para Gabriel. As asas do anjo reluziam, como a alvorada. Era impossível !

- Assim como você, e de certa forma levado pelo seu ímpeto e pelo seu amor pelos humanos .. também dei as costas a Deus. Eu tive de ajudá-lo. Você ficou adormecido por muitos séculos até esquecer a cada vez, quem era de verdade.

- Mas … como ? E porque não me disse antes ?

- Eu tentei lembrá-lo quando conversamos. Acho que não deu muito certo. Quando os anjos vieram e despejaram as suas penas na terra, foi o sinal para o apocalipse que eu estava esperando.

- Entendo … – disse Rafael enquanto fechava os olhos.

- Eu sei que você sabe como isso vai acabar. Eu eu sei como lhe prestar ajuda nesse momento. Eu quero ajudar Rafael!

- Sim, faremos juntos.

Juntos , os arcanjos deram as mãos e entraram na igreja e pararam por alguns minutos para reparar nos detalhes ricos que cobriam as suas cabeças. A luz. Ela expandiu-se de dentro de seus corpos até poderem ser vistas pelos satélites do mundo …

Sem barulho, sem choro, sem lamento … apenas pela morte de Melissa, o único que sobrou.

A luz cobriu Atibaia e mais onze cidades a sua volta, chegando a um pedaço de São Paulo … foram completamente destruídas onde a luz chegou. Depois desse dia , Lúcifer teve que procurar novos generais … todos estavam mortos.

Deus recobriu a consciência. Finalmente! O erro já havia sido consumido.

A morte … era tudo o que restava.

Rafael acordou …. a parede completamente revestida com o azulejo branco o voltava para a consciência. Estava deitado em sua cama. Suas mãos presas em cintos juntos a cama não o deixavam movimentar-se. A fúria despertou , tentando arrebentar as amarras. Em vão. Quando finalmente conseguiu ficar em silêncio ouviu vozes do outro lado da porta do quarto. Na cabeceira da cama havia uma foto de Rafael e um casal mais velho, abraçando-o.

- Doutor, o senhor tem certeza disso ? – Disse a mulher.

- Completamente , senhora. – respondeu o homem de casaco branco em sua frente.

- Mas como ele chegou a esse ponto ? – Disse o homem da foto abraçando a mulher.

- Houve uma lesão em seu cérebro … Rafael não distingue mais a realidade da fantasia – Disse o Doutor cruzando os braços. – Ele inventa histórias sobre seu nome, anjos, penas e demônios. Há também uma mulher com o nome de Melissa.

- Coitado, nunca conseguiu superar a perda dela. – Disse o homem.

- Como assim ? Ela existiu ? – Perguntou o Doutor.

- Sim. Foi uma namorada dele quando ele tinha vinte anos de idade. – Continuou a mulher. – Ela morreu, depois de sua morte ele vem tendo esses lapsos.

- Entendo, deve ter sido um trauma muito grande para o seu filho – O doutor pegou a prancheta na porta do quarto de Rafael e continuou conversando com os pais até saírem dos corredores do hospício.

Rafael escutara toda a conversa … Mas não podia acreditar. As asas, Lecabel, Gabriel, Melissa. Era real e ele sabia …. Fechou seus olhos para dormir e concentrar-se no que acreditava. A pena, em suas mãos … ela continuava lá. Rafael apertou ela uma última vez e seus olhos fecharam-se e nunca mais veriam a luz …


FIM! :P




As penas de um anjo
Parte 4
Ele se levantou. Passando levemente seus dedos pela suas costas onde sentia uma dor insuportável, descobrindo o sangue, jorrava como cascata por ela saindo de duas profundas feridas. As feridas expostas em suas costas à luz do sol, doíam como se ao invés dos dedos, fosse o fogo ardente e a qualquer toque, por mais leve que fosse, parecia alimentar aquela brasa.

- Dor. Finalmente sei como é este presente dado aos humanos pelo Grande. – Disse ele a si mesmo em voz alta enquanto retornava a mão para seu campo de visão vislumbrando o rubro do sangue que escorria lentamente, onde cada pingo que caia, se transformava em um na poça que criara.


As penas ainda caíam do céu, uma atrás da outra, cintilando com o leve toque do sol. Não havia percebido que já havia pousado no chão. A altura de que caíra, era um tanto quanto alta e ainda assim, continuar vivo de qualquer maneira que fosse possível de se imaginar.

- Então esse é a famosa dádiva reservada somente a nós, a tão intrigante queda! – Disse lamentando-se.

Esse era um presente que era dado, mas, usado apenas uma vez. E essa vez, era a única que precisava. Um mergulho sem volta para aqueles que desejavam a vida mortal. Alguns largavam a placa de aço reluzentes reservadas aos anjos por amor, outros por revolta, mas, independentemente da razão, não eram lhes atribuída punição pelo ato cometido. Poucos quando caíam lembravam-se totalmente de seu nome, mas muito mais raro era lembrar do seu passado como um ser puro e glorioso que protegia aqueles que foram criados para ser amados pelo Grande. Lecabel era o seu nome, disso conseguia se lembrar. De seu nome e sua missão, por qual teve de desertar do esplendor de suas asas, e afim de se lembrar sempre, agarrou uma pena e bamboleou em sua frente para sair daquela longa planície verdejante onde fora o palco de sua queda.

- Mesmo não estando mais em minhas costas, sinto o prazer exalando ao tocá-la com os meus dedos.

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Melissa olhava taciturna para Rafael enquanto tomavam um bom copo de café no posto de gasolina em frente a delegacia de Atibaia. Conversaram por alguns bons minutos, desviando do assunto de anjos, penas ou qualquer coisa relacionada ao que estavam passando o máximo que conseguiram. Estavam tendo um tempo de relaxamento e diversão juntos. No começo Rafael pensava que ela era uma menininha metida e que gostava de coisas esotéricas ou religiosas por ter perguntado se tinha a fé em anjos, até saber que ela também não se relacionava muito bem com a religião nos primeiros dez minutos de conversa.

- É bom conversar um pouco. – Disse Rafael enquanto acendia um cigarro. – Estou ficando meio louco com essas penas pra lá e para cá.
- Seria melhor se fosse noite, eu tivesse dormido mais algumas boas horas e tivesse uma boa cerveja aqui do meu lado. – respondeu Melissa sorrindo.
- Isso é bem uma verdade. Uma cerveja agora cairia perfeitamente bem.
- Mas, sei que o assunto é chato e tudo mais, mas porque a repentina curiosidade se acredito ou não em anjos ?
- Bom, aquele investigador. Esqueci o nome dele agora, mas ele me disse uma coisa que não podia te contar. Vou fazê-lo assim mesmo porque confio em você. Afinal você está passando pelo mesmo caso que o meu.
- Humm .. isso me parece meio misterioso – respondeu Melissa fazendo pouco caso das palavras confusas que saiam da boca de Rafael.
- Bom , sabe as penas e o sangue estranho que apareceu para todos nós ?
- Sim … sei . – disse Melissa preocupando-se um pouco mais ao delongar das palavras de Rafael.
- Realmente não são de nenhum animal.E não existe nada químico forte o suficiente para deixar o sangue daquele modo em que encontramos, segundo os analístas.
- Você não está acreditando realmente que seja de anjos … está ?
- Bom …. depois de tudo que aconteceu, é meio difícil até para mim, mas não consigo encontrar outras respostas e pensar em qualquer nova possíbilidade para responder isso é como dar um tiro na minha cabeça de tanta dor.
- Então acho que devemos procurá-las nós mesmos. O que me diz ? – Disse Melissa rindo. – Assim dividímos um pouco dessa dor de cabeça.

Rafael, riu balançando a cabeça como se tivesse acabado de falar uma besteira mas o olhar da mulher em sua frente parecia ser verdadeiro em sua resposta. Sim, acabara de criar uma bola de neve, e já sabia que aconteceria , mesmo antes de contar ou não para Melissa.

- O que temos há perder , Rafael ?
- Bom … poderíamos ser presos, morrer de exaustão, ser presos novamente, e qualquer coisa entre ser preso e morrer. Em resumo, podemos fazer muita coisa e mesmo assim, não sair do lugar e se realmente nos prenderem por atrapalhar a investigação, de nada vai adiantar.
- Já fiquei mais tempo naquela delegacia nesses dias do que em minha vida inteira. Além do mais, aí que me deixa com mais vontade mesmo de seguir e procurar. – A voz de Melissa exala expontâniedade. – Tudo que proibído tem um gosto diferente.
- Mas onde começaríamos a procurar ? Não temos nenhuma pista além de nós mesmos ou que as penas não são de nada que ande, nade ou voe no planeta.
- Bom, acho que alguém está a sua procura. Aquele homem, se ele apareceu só para você e comentou alguma coisa sobre seu nome, com certezsa vai aparecer uma outra vez e é dele que podemos tirar algumas respostas. Duas veses em dois dias é muito improvável para algo inútil. Logo, você já é a primeira pista.

Após mais algumas suposições, perguntas, gritos, desconfianças e precipitações, os dois entraram no acordo de seguir com uma investigação para saber o que era aquele maldito sangue e penas, e porque diabos foram eles os sortudos a encontrarem aquela balburdia. A cada momento em que voltavam ao assunto sobre elas, Rafael afagava a pena que tinha guardado em segredo dentro de seu bolso. A sensação da brisa límpida vinha em seu corpo ao mínimo toque das extremidades de seus dedos, e quando agarrava ela por inteiro com a mão fechada, comichões espalhavam-se por todo o seu corpo, entorpecendo-o de felicidade e leveza, como nunca poderia ter sentido em todo o resto de sua vida, mesmo se dedicasse totalmente na busca pela tão aclamada felicidade.

No final, quando mais um maço de cigarros já estava vazio e os copos de café sem nada com que os preenchiam anteriormente, decidiram que no mesmo dia se encontrariam as quinze horas na praça da igreja da Matriz e de lá, tentariam procurar pistas e ver onde mais daquelas penas e sangue foram encontrados. A praça era um bom lugar, sempre bem movimentada e ficava no centro de Atibaia, rodeada de ruas com diversas lojas, restaurantes … mas a praça, tinha alguma coisa em especial quando Rafael decidia visitá-la, mesmo que fosse uma vez a cada ano. Quando finalmente se encontraram na praça no horário combinado, Rafael olhou taciturno para a Igreja, como se algo lhe chamasse para adentrar aquelas portas, mas, nenhuma voz podia ser ouvida. O poder da pena sobre Rafael parecia aumentar a cada passo e a cada vez que pensava que era Ateu, e sim, estava entrando em uma igreja por vontade própria.

- Porque não entramos um pouco na igreja já que estamos nessa história de anjos ? – Disse Rafael – Me parece um bom lugar para começarmos.
- Você pode até ter um pouco de razão nisso. Faz alguns anos que não entro em igrejas – Disse Melissa enquanto seguia Rafael para dentro da igreja segurando-o pelo braço, como se fosse o primeiro dia de aula no colégio.

Os dois fitaram por alguns segundos a água benta posta na porta com uma mistura de receio e indiferença. Algo dizia para que passasse em si aquela água.

- Na roma , como os romanos, certo ? – Disse Melissa enquanto repousava um pouco da água em seu pescoço lentamente, excitando Rafael com aqueles gestos até que ela pegou um pouco mais da água dentro daqueles vidros com suas mãos fechadas em forma de concha  e passou suavemente no pescoço de Rafael, de sua nunca e indo com leveza até o seu pomo.

- Não precisava passar – Disse corado, mostrando que estava com vergonha. Entraram na igreja, que nos dias de semana vivia vazia. Muitos dos cristãos apenas dava a cara nos finais de semana, onde as outras pessoas poderiam vê-las e acariciarem o seu ego com os adjetivos que somassem a seu caráter.

Avistaram um padre sozinho, com seus cabelhos grisalhos denunciando a avançada idade arrumando alguns papeis e carregando uma pesada bíblia em baixo de seus braços. Parado, imóvel ao pé das cadeiras próxima ao altar, como se já estivesse esperando por eles dois para uma conversa.

- Bom dia meus filhos. – Disse o padre – É sempre bom ver que os jovens ainda seguem a palavra do senhor mesmo nos dias de semana.

- Oi Padre, sei que está no meio da semana e tudo o mais, mas nós gostaríamos de fazer umas perguntas que estão realmente acabando com as nossas noites de sono. – Disse Rafael.

- Claro meus jovens. Se não me engano vi pela televisão um jovem muito parecido com você essa semana. Você sabe, a vida de um padre não é mais tão atribulada como antes já que as pessoas deixam cada vez mais de vir a igreja. Sendo assim, sobra mais um tempo para boas conversas e apreciar um bom vinho. Essa história de anjos na terra estão fazendo com que prestem atenção um pouco mais na vida espiritual.
- É verdade, foi eu mesmo na TV. Há um homem, mais para um louco que decidiu jogar aquelas penas e sangue , e ainda, disse que compartilho o nome de um dos grandes … você tem ideia do que possa ser senhor ?
- Claro, Rafael é o nome de um dos arcanjos , muito conhecido na igreja como São Rafael Arcanjo. Um dos primeiros a serem criados pelo nosso Senhor. Um nome muito bonito, e geralmente seu significado perdido pelas pessoas de cabeça simples. É responsável por todo e qualquer tipo de cura, que vem de seu nome “Deus cura”.
- Bem interessante, não sabia mesmo que o meu nome significava tanto.
- Como disse, seu significado se perde aos anos pelas pessoas. – Disse o padre enquanto apertava as mãos de Rafael. – Você me parece realmente sem sono rapaz, algo que queira saber mais para que possa tirar algum peso de suas costas ?
- O senhor sabe algo sobre aquelas penas ? – Perguntou Melissa como se estivesse com pouca paciência.
- Bom, a TV influência muito as pessoas hoje em dia. Tudo é banalizado, violência, sexualidade e principalmente qualquer caso envolvendo santidades ou a igreja em si. Sei que é até estranho um padre reconhecer, mas há algo intrigante nas penas .. e .. quando toquei uma …
- O senhor conseguiu pegar uma ? – perguntou Rafael.
- Sim, a algumas quadras da igreja, onde realizo a minha caminha matinal, vi um homem loiro, com algumas ataduras em suas costas e vi no local onde deixara, as penas e o sangue.
- Esse homem, você já viu ele em algum lugar ? É o mesmo tenho certeza, o que disse sobre o meu nome ! – Rafael disse enquanto ficava eufórico .
- Ele esteve aqui, alguns dias antes de tudo começar. Me perguntou algumas coisas sobre a vida na terra. Como se tivesse acabado de nascer. A igreja sempre acolhe aqueles que necessitam, então ofereci a casa do senhor como estadia para uma noite, mas o homem recusou. Disse que havia uma missão, e devia encontrar um companheiro a muito perdido. Fiquei apreensivo ao começo quando percebi que o rapaz não estava totalmente normal mentalmente, sintia que precisava de ajuda.
- Sim, tive o mesmo pressentimento quando encontrei a pessoa. Como se já a houvesse conhecido de algum tempo – pensou Rafael consigo mesmo.
- Bom, se vocês não se importam, esse homem velho precisa se retirar e ter uma repousa, em dentro de algumas horas estarei realizando alguns afazeres do meu cargo, e uma mente velha precisa de seu descanço. Agradeço pela mente de jovens se importando em visitar a igreja. – E realmente, Rafael se sentia confortável depois dos dias de loucura e sangue.
- Claro senhor, fique a vontade, estamos de saída. – Disse Melissa puxando Rafael que estava olhando atentamente as pinturas e a arquitetura da igreja. Ele se sentia bem ali, era como se estivesse em um refúgio, longe de problemas e principalmente, longe de penas. Sentia que ali era o seu lugar naquele momento, mesmo sendo ateu, era até hipócrita dizer … mas estava realmente se sentindo bem na igreja.
- O que foi ? Você parecia tão estranho na igreja. – disse Melissa enquanto lhe entregava um sorvete em sua mão , dentro da sorveteria que ficava de frente a igreja. – Não me diga que vai começar a frequentar todos os domingos que eu sei que você não vai.
- Não , não é isso. – disse Rafael deixando o sorvete cair sem ao menos percebê-lo, deixando um lindo sorriso no rosto de Melissa enquanto pensava sozinho – Não que a igreja me faça mal ou sei la, gostei de lá. É aquele homem que me incomoda. O padre também o viu.
- É … esse cara, me parece ser bem estranho. Você tem certeza que não conhece ele ? Porque tipo, ele só apareceu para você dentre todos nós.
- Depois desses dias Mel, nem sei. – disse Rafael enquanto via ela soltar outro daquele lindo sorriso.
- Mel ? Tudo bem, eu aceito vai Rafa. – desataram os dois a rir, esquecendo o sorvete por derreter no chão da sorveteria de Atibaia.
As penas de um anjo
Parte 3

Estava caindo. Podia ouvir muito bem o som do vento passando pelas suas orelhas. Ao seu redor apenas nuvens, mas tão brancas, que pareciam ser trazidas de um sonho de tão bonitas. Olhou para cima e viu milhares de penas cintilantes, pincelando o céu por onde caiam.

- Que cheiro é esse ? – indagou-se. – É sangue ? Sim, meu sangue.

As penas rajavam-se ao toque do sangue pelo céu. Mesmo com todo aquele rastro rubro misturado a penas, era um quadro lindo.

- O que é isso em minhas costas ? Isso … é a dor ?

Nesse momento olhou para trás e viu ao longe a enorme planície verdejante se estendendo por quilômetros, e com certeza, seria esse seu destino.

- Será que se cair dessa altura …irei uma vez mais me levantar ? – perguntou a si mesmo com os lábios semiabertos, secos e rachado pelo forte vento.

Rafael conseguiu apenas abrir levemente os olhos vendo apenas o que tinha ao seu redor. Ainda estava deitado ao chão e sentia que a sua boca agora estava molhada, tocada suavemente pelo sangue que saíra de sua boca, resultante da queda direta ao chão. Natanael e Miguel correram para levantá-lo logo quando o ouviram os gritos e todo aquele barulho. As penas rajadas de sangue estavam agora espalhadas aos montes pelo quintal da casa. Sirenes tocavam e vinham junto do barulho e do cheiro de pneus de carros de polícia fritando ao asfalto. Rafael apenas sentiu seu corpo ser levantado do chão e com o apoio de seus amigos se encaminhando para uma ambulância que num piscar de olhos, estava na casa de Natanael. Rafael fechou os olhos.

-Vocês fiquem aqui, um oficial irá encaminhá-los para a delegacia. Até lá, entrem em casa e não contatem ninguém – disse um policial abrindo passagem para o s enfermeiros da ambulância.

Quando acordou, Rafael estava novamente na delegacia e rapidamente tirou sua cabeça que estava encostada nos ombros de Melissa, a pequena mulher que conversara mais cedo. Ela estava com um pijama lilas, com os olhos inchados como se tivesse acabado de acordar.

- Acho que você não está se sentindo muito bem, hein ? – disse Melissa.
- É, realmente essa não foi uma das minhas melhores noites – respondeu Rafael.
- Todos fomos trazidos novamente para a delegacia. Pelo que parece, no local onde todos estavam voltaram a aparecer as tais penas.
- É – respondeu Rafael deixando uma pausa grande na conversa enquanto tocava a pena em seu bolso.
- Bom , só falta saber porque fomos novamente os sorteados. – disse Melissa interrompendo a pausa de Rafael.

A sensação de tocar a pena era ótima como uma droga, extremamente viciante. Melissa percebia que ele não tirava a mão do bolso, mas preferia fingir que não reparava, talvez, melhor assim, aquele havia sido um dia incrivelmente estressante e todos estavam novamente naquele maldito cubículo para responder perguntas sem sentido, como se soubessem o que estava acontecendo. Nesse momento Natanael e Miguel saíram do interrogatório junto com o investigador, que olhou com certo ar de desprezo para Rafael chamando para novas perguntas. Entrou silenciosamente na sala com a ajuda de um guarda que o colocou sentado na mesma cadeira que estivera naquela tarde.

- Bom , acho que tivemos uma noite um tanto quanto perturbadora não é, Rafael ? – começou o Investigador.
- É , acho que o corte na minha boca diz o quanto foi bom. – respondeu Rafael.
- Realmente Rafael, realmente. Sei o quanto é impertinente, mas precisamos de respostas para ajudar a saber o que está acontecendo. O que aconteceu na casa de seu amigo para que você caísse ?
- Não sei, acho que devo estar ficando louco, parecia mais um sonho. - disse Rafael cabisbaixo.
- Bom , só conseguiremos responder se você nos contar o que aconteceu. – prosseguiu o investigador.
- Então, aquele mesmo homem que colocou as penas no meu carro, apareceu na casa de Natanael. Disse algumas besteiras sobre o meu nome e o que ele queria com toda essa história de penas. – continuou Rafael.
- Como era esse homem ?
- Ele era loiro. Não consegui ver direito seu rosto pois estava muito escuro. Apenas sei que era loiro.
- Ele te falou algo sobre as penas. Citou algum ritual ou o motivo de espalhar elas ?
- Não , apenas me mostrou a poça de sangue com as penas. – nesse momento Rafael apertou com toda a força a que estava em seu bolso.
- Você não se importa se eu acender um cigarro não é Rafael ? Toda esta merda está mexendo com a minha cabeça.
- Não , se possível quero acender um também.
- Claro, Claro, fique à vontade. Bom, sobre as penas não podemos contar muita coisa. Tem muita gente envolvida e os grandões pediram para não compartilhar informações alheias, mas eu acho que isso é uma putaria.
- Como assim, eles acham informações e não querem divulgar para quem está passando por isso tudo ? Estou sem casa, sem carro e essas merdas de penas não param de aparecer. Pareço até uma galinha porra!

O investigador olhou-o nos olhos profundamente seguido de uma longa tragada no cigarro em que fumava. Fechou os olhos e abriu a boca.

- Qualquer coisa que te dizer aqui, não poderá ser divulgada nem com sua mãe. Você entende isso ? E só irei te contar, para poder abrir um pouco mais a minha mente e também o fardo.
- Entendo. – disse Rafael trêmulo.
- Bom , o sangue que encontraram … não está classificado como o de nenhum animal. O mesmo acontece com as penas.
- Como assim ? – disse Rafael deixando o cigarro queimar seu dedo, entendendo a resposta que estava por vir.

Rafael saiu da sala depois de ouvir a resposta do Investigador, sentou no banco ao lado de Melissa. Acendeu outro cigarro com as mãos já trêmulas. Ele olhou para o rosto da mulher com um sorriso amarelo e disse:

- Você realmente acredita em anjos ? – falou Rafael, seguindo com uma tragada forte em seu cigarro.
As penas de um anjo
Parte 2
A única coisa que Rafael podia ver, era o flash das câmeras cegando os seus olhos, forçando-os a se fecharem pelo impulso de desviar daquelas luzes irritantes.


Assim que conseguiu abrir seus olhos por inteiro, viu a quantidade maciça de repórteres proferindo dezenas de perguntas ao mesmo tempo em sua direção. Parecia que estava dentro de uma colmeia, cheia de abelhas, zunindo sem parar. A situação era extremamente estressante. Não sabia como haviam chegado tão rápido ou quem os havia chamado para fazer aquele tumulto na rua de sua casa. Lembrou das penas, do homem que fugiu quando chamado a atenção e seu misterioso desaparecimento, sem deixar nenhuma pista conclusiva de como havia escapado, apenas sumiu.

- Senhor, senhor … você viu quem colocou as penas no seu carro ? – perguntou uma repórter de um jornal qualquer.
- Sim, eu o vi. – respondeu Rafael.
- E como ele era ? – perguntou um outro repórter, dessa vez, um homem de canal de televisão importante, segundo o simbolo que mostrava em seu microfone.
- Era um homem normal, loiro e só sei que sujou o meu carro e a rua o suficiente para que a mídia aparecesse. – falou Rafael à aquela multidão.

Diversas outras perguntas vieram e mesmo se Rafael respondia ou não, aquela correnteza de pessoas não deixava-o seguir para qualquer outra direção à que não fosse a das câmeras ou de microfones. Irritado pela insistência incessante daquele turbilhão, empurrou brutalmente a linha de frente do batalhão de perguntas, para que assim, pudesse abrir um caminho livre para um pouco de paz. A cada pessoa que tirou de sua frente, outras três tomaram seu lugar no mesmo instante. No mesmo momento em que pensou em desistir de sair daquele local, um homem gordo, exalando respeito com seu grande bigode surgiu dentre o meio da multidão e apertou o seu braço direito e ajudando Rafael, finalmente abriu uma passagem. O homem chegou com a boca bem perto de seu ouvido e disse em voz baixa “Sou policial, me acompanhe sem falar nada a ninguém” . Mesmo sentindo o comichão em seu estomago, Rafael acatou a ordem emitida pelo homem e juntos, saíram livremente do local, ajudado por outros policiais que apareceram para dar suporte a fuga.

Sua rua estava irreconhecível, nunca estivera cheia como naquele momento em toda a vida. Finalmente chegaram a uma viatura policial onde no banco do motorista, estava um policial militar onde finalmente o homem disse:

- Sou o investigador Gabriel, apenas entre na viatura e não olhe para ninguém , não fale com ninguém. – disse o Investigador – Precisamos fazer algumas perguntas em um local apropriado.
-Tudo bem – disse Rafael calmamente – , só me tire daqui.

Assim, que entrou na viatura, vasculhou seu bolso e encontrou o seu maço de cigarros e colocando um na boca, acendeu com um esqueiro que ganhou de uma antiga namorada. A tragada foi funda, sentiu a fumaça entrar em seus pulmões, fazendo o prazer de diminuir a sua vida a cada, um dos melhores prazeres da vida. Depois do terceiro trago, o policial ao volante olhou com uma cara firme de repreensão fazendo que por reflexo, Rafael jogar o cigarro em direção a multidão.

- Sabe, nunca fui muito religioso – disse Rafael nervoso – Deus, santos e anjos sempre foram para mim, uma puta de uma besteira.

O policial apenas viu pelo retrovisor, sem dizer nada. No mesmo instante o investigador entrou no carro.

- Vamos para a delegacia. – disse o investigador ao policial – Iremos fazer apenas algumas perguntas sobre o que aconteceu, não há nada no que se preocupar, é só cooperar.
- Tudo bem, mas porque todo esse alvoroço logo em minha casa, na minha rua ? – perguntou.
- As perguntas e respostas, começarão quando chegarmos na delegacia, até lá, peço que fique em silêncio.

Chegaram rapidamente a delegacia. Atibaia era uma cidade pequena no interior de São Paulo e praticamente tudo era relativamente perto. Ao ver a porta da delegacia, viu um alvoroço parecido com o de sua rua e vários policiais impedindo a passagem com uma barreira humana de policiais bem armados. Era bizarro, a cidade nunca recebera tanta audiência desde as enchentes ocorridas no ano anterior que foram televisionadas a todo território nacional.

- Saia do carro e não fale com ninguém, os policiais irão acompanhá-lo.

Sem responder, saiu do carro direto para dentro do local guardado pelos policiais. O investigador Gabriel chegara quase ao mesmo tempo e com um sinal mostrou uma sala recheada com diversas outras pessoas com o mesmo rosto de incompreensão. No meio das exatamente seis pessoas, estava seu amigo Miguel, partilhando de um sinal interrogativo.

- Então você também achou alguma galinha morta ? – disse Miguel. – Todos aqui também viram penas na rua, em casa ou no trabalho.
- Sei. – disse Rafael.

Nesse momento Gabriel voltou a sala tomando a atenção de todos.

- Bom, sei que vocês não tem culpa nenhuma do ocorrido e que o povo começou todo esse papo de anjo. – disse o investigador – Mas, vocês acabaram sendo premiados com essa honra. Vocês sabem por que ?
- Honra? – disse uma senhora sentada ao canto.
- Não tenho a minima ideia, apenas cheguei em casa e vi aquelas penas com sangue na minha casa – disse Miguel.

O investigador olhou para dois dos guardas que estavam na porta da sala e pediu para que levassem um por um para interrogatório, começando por Miguel. O interrogatório decorreu por horas em fio e sem que se houvesse progresso. Finalmente foram liberados do interrogatório mas deveriam ficar no recinto. Todos no local foram interrogados. Eram enviadas para a sala no andar de cima onde eram feitas dezenas de perguntas sem sentido a relação ao momento da descoberta das penas. Todos estavam reunidos novamente na sala. Canecas de café eram distribuídas de hora em hora para as pessoas que estavam no local até que uma jovem quebrou o silêncio.

- O que vocês acham dessa coisa de anjos ? – perguntou a menina.
- Eu acho uma merda isso sim, anjos não existem – disse Rafael fazendo com que todas as pessoas se intimidassem a falar qualquer outra coisa.- Só quero voltar para casa.

Rafael nunca fora muito cristão por toda a sua vida e até seus pais e amigos o criticavam por isso. A crença em Deus, anjos, santos e qualquer divindade era extremamente impossível para Rafael. Fé, era impossível associar essa palavra com sua vida em qualquer que fosse o momento. Sentia inveja das pessoas que tinham fé. Sempre teve uma dúvida razoável, mas decidiu ignorar por completo quando estava na adolescência.

- Tudo bem, pode ser besteira essa coisa de anjos, mas acho muito estranho essas coisas aparecem aqui em Atibaia. – disse a menina se opondo ao último comentário feito na sala.
- Será que poderemos ir pra casa ainda hoje ? Trabalho amanhã cedo – disse um homem gordo com a barba por fazer.
- Só sei que os policiais nos mandaram ficar aqui – respondeu a senhora.
- Eu não aguento mais ficar preso aqui – disse Rafael já irritado com toda aquela situação. Levantou e acendeu outro cigarro. A menina fez o mesmo e parou ao seu lado.
- Você não deve ser muito religioso, certo ? – perguntou a menina.
- Não, nem um pouco. Sou ateu. – respondeu Rafael olhando-a pelo canto dos olhos.
- Interessante para alguém que tem o nome de um anjo.- disse a menina no espaço de tempo de uma tragada a outra do cigarro que estava fumando.

Naquela hora o investigador trouxe a última pessoa que entrou para ser interrogada e disse a todos.

- Bom pessoal, vocês devem ficar longe de suas casas até que a perícia termine a investigação nelas. Foram trazidos alguns dos melhores especialistas da área para Atibaia e se tiverem parentes ou amigos próximos, melhor contatá-los e irem para casas deles.
- Como assim não poderemos ir para casa – disse Miguel levantando-se para encarar o investigador com toda imprudência que conseguiu reunir. Miguel era assim, pavio curto e não sabia se dar com notícias inesperadas.
- Peço que todos se acalmem e não compliquem mais ainda a investigação. – disse o investigador afastando seu paletó da cintura fazendo com que sua arma brilhasse na luz amarela que havia no recinto – uma escolta irá guiá-los para onde decidirem ficar.
- Não podemos pelo menos pegar nossas roupas? – perguntou a senhora.
- Não. – respondeu o investigador antes de sair da sala fazendo com que dois guardas impedissem a passagem deles.

Rafael jogou seu cigarro no chão e apagou com seu pé. A menina não parou de olhar ele e fez o mesmo. Ela o estava irritando, e parecia que a intenção era proposital.

- Você não acha um tanto incomum está situação ? Toda essa história de anjos, penas, e os policiais apenas com perguntas, sem nenhuma resposta para aquelas que pedimos ? – perguntou a menina.
- Só sei que não tem nada a ver com anjos, já disse. – disse Rafael olhando agora o rosto da menina. Na verdade não era uma menina agora que prestara atenção, mas uma mulher bonita com aparências bem joviais.
- Eu também não costumava a acreditar naquilo que não vejo, mas, talvez, dessa vez seja verdade – continuou a menina saindo da sala e dando as instruções ao guarda de onde ficaria.
- Qual o seu nome ? – perguntou Rafael.
- Melissa – disse saindo do lugar acompanhada por um dos guardas.

A situação para todos era o tanto quanto incomoda e palavras insatisfeitas foram ditas por todas. Aquele cara que saiu correndo, que sujou o seu carro e que por fim desaparecera. Rafael tentou imaginar diversas desculpas para que ele desaparecesse, mas, todas sem sucesso ou um pingo de coerência. Algum tempo se passou e todos foram saindo, um a um, para casa de parentes ou qualquer um que os abrigassem em um lugar seguro. Miguel foi junto de Rafael, pois eram amigos próximos e os dois não tinham muitos a quem recorressem e por final, fora a casa de seu amigo Natanael. Foram os últimos a saírem e por isso a atenção foi um pouco desviada pelos primeiros carros levando as outras pessoas.

Assim que chegaram a casa de seu amigo, foram calorosamente recebidos com uma grande caneca de café, um jantar maravilhoso preparado por sua mulher e claro, muitas perguntas. Logo quando o relógio marcava onze horas todos se preparam para dormir e Natanael lhe mostrou o quarto em que iriam ficar. Quando já estavam aconchegados enrolados em seus cobertores a lembrança daquela pessoa misteriosa ainda persistia em sua mente, fazendo-o a lembrar detalhadamente daquelas penas cobertas de sangue. As penas eram incomuns, eram como se fossem impermeáveis, mesmo quando o sangue as cobriam , o sangue escorriam deixando-as limpas. Agora sabia de onde saiu todo essa ladainha sobre penas celestiais. Eram lindas, como cintilavam com o sol batendo em cima delas. Lembrou-se de tocá-las e sentir-se intensamente bem com a sensação suave em seus dedos junto do sangue que ao mesmo tempo as sujavam. Agora sim sabia o porque do nome dado de “penas de anjos”. Cercado pela dúvida, a vontade de fumar o acolheu. Levantou-se da cama e pegou seu maço de cigarros e o esqueiro e andando lentamente foi ao quintal da casa de seu amigo para afagar seu desejo.

Indo em direção ao portão com seu cigarro já aceso, refletiu um pouco mais sobre o assunto, com um toque de ceticismo a mais.

- Anjos, me dê um tempo. Isso não pode ser real – disse Rafael sozinho olhando o seu celular. Era duas da madrugada e dezesseis minutos.
- Como pode você dizer o que é real ou não, sendo que limita-se a não acreditar no divino – disse uma voz grossa e ao mesmo tempo serene.
- Quem está ai ? – perguntou Rafael no mesmo tom que a voz usava, olhando pelo quintal para achá-la – E como sabe o meu nome ?
- Seu nome é compartilhado por um dos grandes, devia saber disso – continuou a voz, fazendo Rafael sentir que a voz falava próxima ao seu ouvido.
- Um dos grandes, como assim ? – disse Rafael virando em direção em que pensou ouvir a voz, mas para sua surpresa, não encontrara nada – O que você quer comigo ?

Como se fosse um relâmpago aquela pessoa com que se encontrara mais cedo na porta de sua casa, agora estava em sua frente. As cicatrizes eram protuberantes em seu rosto. Um sorriso espantador era direcionado a Rafael enquanto aquele homem o media dos pés à cabeça.

- Você jogou aquelas penas com sangue em meu carro, foi você eu vi você – disse Rafael enquanto apontava o dedo para o rosto do homem.
- O que quero você perguntou, certo? – disse o homem terminando o sorriso. – Você saberá no momento certo. Agora só preciso que guarde uma pena com você.
- E por que irei precisar de uma pena ?

O homem apontou o dedo indicador para trás de Rafael mostrando-lhe uma poça de sangue com mais penas e quando retornou a vista para o homem, já não estava lá.

- Você saberá o que quero. Talvez, até já saiba. – disse a voz uma última vez naquela noite.

Rafael no ímpeto da loucura em que se acometeu, correu em direção e pôs uma das penas em seu bolso gritando por Natanael.

- O que você quer maldito ? – gritou uma última vez antes que caísse estatelado no chão.

A única coisa que ouvia era o grito de pessoas chamando o seu nome mas a única coisa que conseguia ver era aquele rosto e as penas. Agora estava louco por completo.
As penas de um anjo
Parte 1
Era tarde de sexta-feira em Atibaia, estava chovendo. Era o dia de folga de Rafael, não aguentava mais fazer contas e mais contas no escritório de contabilidade onde trabalhava. Calcular impostos de renda, balancetes e diversas outras coisas o entediavam demasiadamente . Foi até a cozinha de sua casa e encheu uma caneca de café para poder ver as notícias no jornal que comprara de manhã e quando viu de relance só conseguiu prestar atenção na matéria com título em letras garrafais :

“ Mais penas brancas marcadas com sangues são encontradas no bairro de Atibaia”

A imagem anexada a matéria enfatizava as penas brancas rajadas de sangue atreladas a parede e a calçada em uma rua não asfaltada nos arredores do bairro de Caetetuba. O sangue na imagem era nítido, ainda não coagulara mesmo com todas as condições favoráveis para isso. Atibaia tinha um clima fresco, mas aquilo era impossível de acontecer pensava Rafael.

- Pelo amor de Deus, quando irão parar de dar importância para esses macumbeiros nômades que estão andando em Atibaia – perguntou Rafael para si mesmo – e tentar combater mais alguns traficantes ?

Em sua cabeça era mais importante a prisão ou, talvez, a própria morte de alguns traficantes e bandidos ao invés de procurar pessoas ensandecidas matando galinhas pelos cantos de Atibaia. Mas uma coisa que o intrigara naquelas notícias era o fato do sangue continuar vívido. O sangue não coagulava.

Rafael voltou para a sala de sua casa e ligou a TV nova que acabara de comprar – TV Samsung LED 1080 HP – ao ligá-la já estava em um canal de noticiários onde sempre ficava de olho para tentar um dia investir na bolsa e inesperadamente viu a notícia percorrendo o rodapé do programa:

“Mais penas de anjos foram encontradas hoje no norte de paris e do caribe esta manhã de sexta-feira, especialistas em biologia estão se reunindo para identificar a origem do sangue que são encontrados junto as penas, acompanhe em nosso site …”

- Meu Deus, devem estar ficando loucos, deve ser uma maldita ceita com galinhas com um pouco mais hormônio em suas rações para impressionar um pouco mais, mas, anjos ? – pensou Rafael perguntando-se a si mesmo em pé de frente a televisão .

Ainda assim, sabendo que era uma bela de uma besteira, sentiu-se intrigado pelas “penas de anjos” e o sangue que foram encontrados, pois, na verdade, não era uma coisa que ouvisse todo dia. Mesmo que a banalidade arrebatadora atingisse certo grau em qualquer coisa que passasse na televisão nos dias de hoje, aquilo que acontecera em Atibaia e no mundo tinha alguma coisa estranha demais para serem apenas coincidências ou uma simples ceita de macumbeiros loucos matando galinhas de penas brancas pelo mundo. Nesse mesmo instante seu celular tocou. Era seu uma ligação de Miguel.

- Oi Miguel – disse Rafael atendendoo telefone.
- Oi Rafael, então, vem aqui pra casa pois já, já a imprensa chega e você mal vai conseguir entrar na rua de casa, corre ! – disse Miguel entusiasmado.
- Claro, mas porque a imprensa estaria na sua casa ? – disse Rafael confuso com o que Miguel falara.
- Então, aquelas penas, as “penas de anjo”, estão aos montes dentro do quintal de casa, e o sangue cara, realmente é muito estranho – disse Miguel com a voz eufórica.

- Tudo bem, me dê quinze minutos que eu já estarei chegando na sua casa – respondeu Rafael antes de desligar o celular.

Mesmo sabendo que o que Miguel queria era alguém para compartilhar aquela loucura não podia de deixar as intrigantes penas ali paradas, na casa de seu amigo, sem poder dar uma espiada para ver o que eram com exatidão.

- Meu deus, devo estar ficando louco – pensou Rafael.

Pegou as chaves do seu carro correndo, terminou a caneca de café deixando-a suja em cima da mesa da cozinha e correu para seu carro.

Uma figura interessante, com seus cabelos louros como o ouro, de ombros largos e sem camisa impressionava Rafael enquanto jogava as penas cheias de sangue de suas costas para o capo do carro com gritos de dor estridentes . Quando aquele desconhecido percebera que estava sendo observado por um pessoa catatônica que parecia ser o dono do carro, riu com certa audácia, e saiu andando levemente com uma graça nunca vista por Rafael. Ao sair da visão de sua visão, interrompida pela parede a sua direita correu para tirar satisfações com aquele ser.

- Volte aqui seu macumbeiro maldito, olhe o que você fez no meu carro ! – gritou Rafael correndo abrindo o portão de sua casa.

Teria sido interessante alcançar aquela figura e saber o que realmente aquelas pessoas queriam demonstrar matando galinhas e espalhando pelas cidades do mundo, mas algo perturbou-lhe o bastante para esquecer esta ideia. Aquela pessoal não estava mais na rua , e seus passos, deixaram um rastro inconfundível de sangue e penas. Aquilo era inconcebível, pois Rafael morava em uma avenida de casas de luxo, e a única casa com portões baixos o bastante para serem escalados ou adentrados era o de sua casa. No ímpeto do momento Rafael correu em direção daquelas marcas na avenida, mas, antes que pudesse terminar em alguma esquina , o rastro daquela pessoa desaparecera em mais um punhado de penas e sangue.

- Será que isso realmente … é um anjo ? – perguntou para si mesmo – Devo estar ficando louco.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

“O amor foi quando ela deu seu ultimo susurro: ‘te espero no céu’. Ela está lá me esperando, e lá vamos ser felizes por toda eternidade. – Rogger 8 anos para Yahala 7 anos.
Foi quando ela se escondeu, porque estava sem cabelo, e eu disse que não a amo somente fisicamente e sim espiritualmente, pois não amamos um corpo e sim uma alma. - Gabriel 9 anos para Giovanna 7 anos.
Quando minha única lágrima escorreu pelo meu rosto, e caiu sobre o seu, eu prometi que seria eterno, e vamos continuar o nosso amor no céu, aonde o amor não acaba. - Jonathan 6 anos para Renata 7 anos.
O amor foi quando descobri que necessitava um coração, eu disse: ‘te dou o meu, pois é por você que ele pulsa’. - Richard 6 anos para Vanessa 5 anos
Cuide bem do seu amor, seja ele quem for… O meu está no céu me esperando, e eu estou aqui cumprindo minha missão. - Robert 10 anos.
Amor é quando você fala para um garoto ‘que linda camisa ele está vestindo’ e aí ele a veste todo dia. -Noelle, 7 anos
Amor é quando seu cachorro lambe sua cara, mesmo depois que você deixa ele sozinho o dia inteiro. -Mary Ann, 4 anos.”
(Instituto do Cancêr)
Seja quem for que estiver lendo isso, eu espero que você saiba que você nunca está sozinho, e que alguém aí fora ama você mais do que você jamais saberá.