sexta-feira, 14 de outubro de 2011

As penas de um anjo
Parte 1
Era tarde de sexta-feira em Atibaia, estava chovendo. Era o dia de folga de Rafael, não aguentava mais fazer contas e mais contas no escritório de contabilidade onde trabalhava. Calcular impostos de renda, balancetes e diversas outras coisas o entediavam demasiadamente . Foi até a cozinha de sua casa e encheu uma caneca de café para poder ver as notícias no jornal que comprara de manhã e quando viu de relance só conseguiu prestar atenção na matéria com título em letras garrafais :

“ Mais penas brancas marcadas com sangues são encontradas no bairro de Atibaia”

A imagem anexada a matéria enfatizava as penas brancas rajadas de sangue atreladas a parede e a calçada em uma rua não asfaltada nos arredores do bairro de Caetetuba. O sangue na imagem era nítido, ainda não coagulara mesmo com todas as condições favoráveis para isso. Atibaia tinha um clima fresco, mas aquilo era impossível de acontecer pensava Rafael.

- Pelo amor de Deus, quando irão parar de dar importância para esses macumbeiros nômades que estão andando em Atibaia – perguntou Rafael para si mesmo – e tentar combater mais alguns traficantes ?

Em sua cabeça era mais importante a prisão ou, talvez, a própria morte de alguns traficantes e bandidos ao invés de procurar pessoas ensandecidas matando galinhas pelos cantos de Atibaia. Mas uma coisa que o intrigara naquelas notícias era o fato do sangue continuar vívido. O sangue não coagulava.

Rafael voltou para a sala de sua casa e ligou a TV nova que acabara de comprar – TV Samsung LED 1080 HP – ao ligá-la já estava em um canal de noticiários onde sempre ficava de olho para tentar um dia investir na bolsa e inesperadamente viu a notícia percorrendo o rodapé do programa:

“Mais penas de anjos foram encontradas hoje no norte de paris e do caribe esta manhã de sexta-feira, especialistas em biologia estão se reunindo para identificar a origem do sangue que são encontrados junto as penas, acompanhe em nosso site …”

- Meu Deus, devem estar ficando loucos, deve ser uma maldita ceita com galinhas com um pouco mais hormônio em suas rações para impressionar um pouco mais, mas, anjos ? – pensou Rafael perguntando-se a si mesmo em pé de frente a televisão .

Ainda assim, sabendo que era uma bela de uma besteira, sentiu-se intrigado pelas “penas de anjos” e o sangue que foram encontrados, pois, na verdade, não era uma coisa que ouvisse todo dia. Mesmo que a banalidade arrebatadora atingisse certo grau em qualquer coisa que passasse na televisão nos dias de hoje, aquilo que acontecera em Atibaia e no mundo tinha alguma coisa estranha demais para serem apenas coincidências ou uma simples ceita de macumbeiros loucos matando galinhas de penas brancas pelo mundo. Nesse mesmo instante seu celular tocou. Era seu uma ligação de Miguel.

- Oi Miguel – disse Rafael atendendoo telefone.
- Oi Rafael, então, vem aqui pra casa pois já, já a imprensa chega e você mal vai conseguir entrar na rua de casa, corre ! – disse Miguel entusiasmado.
- Claro, mas porque a imprensa estaria na sua casa ? – disse Rafael confuso com o que Miguel falara.
- Então, aquelas penas, as “penas de anjo”, estão aos montes dentro do quintal de casa, e o sangue cara, realmente é muito estranho – disse Miguel com a voz eufórica.

- Tudo bem, me dê quinze minutos que eu já estarei chegando na sua casa – respondeu Rafael antes de desligar o celular.

Mesmo sabendo que o que Miguel queria era alguém para compartilhar aquela loucura não podia de deixar as intrigantes penas ali paradas, na casa de seu amigo, sem poder dar uma espiada para ver o que eram com exatidão.

- Meu deus, devo estar ficando louco – pensou Rafael.

Pegou as chaves do seu carro correndo, terminou a caneca de café deixando-a suja em cima da mesa da cozinha e correu para seu carro.

Uma figura interessante, com seus cabelos louros como o ouro, de ombros largos e sem camisa impressionava Rafael enquanto jogava as penas cheias de sangue de suas costas para o capo do carro com gritos de dor estridentes . Quando aquele desconhecido percebera que estava sendo observado por um pessoa catatônica que parecia ser o dono do carro, riu com certa audácia, e saiu andando levemente com uma graça nunca vista por Rafael. Ao sair da visão de sua visão, interrompida pela parede a sua direita correu para tirar satisfações com aquele ser.

- Volte aqui seu macumbeiro maldito, olhe o que você fez no meu carro ! – gritou Rafael correndo abrindo o portão de sua casa.

Teria sido interessante alcançar aquela figura e saber o que realmente aquelas pessoas queriam demonstrar matando galinhas e espalhando pelas cidades do mundo, mas algo perturbou-lhe o bastante para esquecer esta ideia. Aquela pessoal não estava mais na rua , e seus passos, deixaram um rastro inconfundível de sangue e penas. Aquilo era inconcebível, pois Rafael morava em uma avenida de casas de luxo, e a única casa com portões baixos o bastante para serem escalados ou adentrados era o de sua casa. No ímpeto do momento Rafael correu em direção daquelas marcas na avenida, mas, antes que pudesse terminar em alguma esquina , o rastro daquela pessoa desaparecera em mais um punhado de penas e sangue.

- Será que isso realmente … é um anjo ? – perguntou para si mesmo – Devo estar ficando louco.

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